Editoriais reforçam a pressão para que o novo governo radicalize a agenda contra os interesses do povo e do país.
A mídia vem tratando a questão econômica na transição de governo como mera sequência da política adota pelo governo do presidente golpista Michel Temer. Não deixa de ter razão, mas o programa Jair Bolsonaro-Paulo Guedes é mais radical. A marca da propaganda midiática é o recorte entre a política adotada no ciclo de governo dos ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e a restauração da pauta neoliberal. O jornal O Globo, por exemplo, diz em editorial intitulado “Frágil na ética, Temer consegue debelar crise” que o presidente golpista montou uma “boa equipe econômica” e assim evitou a debacle da economia.
Com seu clássico receituário direitista, o jornal afirma que Temer herdou uma grave situação deixada por Dilma Rousseff e enverada pela falsificação dos fatos para justificar o golpe de 2016 exatamente pelo viés econômico. Segundo o editorial, na “linguagem da luta no campo político-ideológico, os lulopetistas tacharam de ‘golpe’ o impeachment sofrido por Dilma Rousseff, por ela ter descumprido preceitos da Lei de Responsabilidade Fiscal”. A transferência do poder a Temer, de acordo como O Globo, foi “determinante para que a grave crise econômica, talvez a maior da história, fosse contida”.
Contas públicas
São falsos conceitos. Os anêmicos indicadores do Produto Interno Bruto (PIB) na verdade revelam que a apatia econômica tem causas bem definidas. A começar pelos reflexos da grave crise internacional, que se desdobram nos fatores que levaram o país à trágica recessão iniciada em 2015. Ao tentar enfrentar os efeitos da debacle nas economias centrais, deflagrada em 2007-2008, com a velha receita neoliberal, sob a batuta do então ministro da Fazenda Joaquim Levy — na fase mais crítica da luta do governo da presidenta Dilma Rousseff contra a fúria golpista —, o Brasil entrou na rota da estagnação e da recessão econômica.
Entre o terceiro trimestre de 2013 e o último trimestre de 2014, a economia brasileira enfrentou um ciclo de desaceleração puxado pela queda na taxa de investimento, que passou a apresentar patamares negativos a partir do segundo semestre de 2014. O problema se agravou com a Emenda Constitucional 95, que instituiu o “Novo Regime Fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União, que vigorará por vinte exercícios financeiros”, uma das primeiras medidas do governo golpista.
Mas para O Globo Temer teve “o mérito de ter montado competente equipe econômica” para conseguir “avanços substanciais na economia”, como a inflação baixa e os juros básicos de 6,5%. “Bolsonaro recebe uma economia estabilizada, pronta para crescer a taxas mais elevadas, tudo a depender das reformas, a começar pela da Previdência. Ela é essencial para o país começar a digerir a pesada herança do lulopetismo, tão pesada na enorme capacidade de deteriorar as contas públicas que a dívida interna não para de crescer em relação ao PIB”, receita o jornal.
Recomendações de Temer
O jornal Folha de S. Paulo também faz editorial nessa linha. Intitulado “A agenda retomada”, o texto diz que o “governo Temer fez modernização da economia avançar” e “Bolsonaro deve aprofundar o processo”. Também com a pregação neoliberal, o jornal derrama elogios à “modernização” dos anos 1990 e ataca a Constituição de 1988, que seria uma espécie de manual “de protecionismo e corporativismo”. “Desde então, sucessivas administrações federais puseram em marcha um lento processo de abertura e modernização, trajetória interrompida “pela euforia irresponsável a partir da segunda metade da década passada” e retomada por Temer”, diz o editorial.
A Folha de S. Paulo diz que espera que Bolsonaro “tenha a sabedoria de reconhecer essa agenda e, sem patrocinar rupturas que apenas dissipam energia, aprofundá-la”. Entre as medidas de Temer elogiadas pelo editorial estão a “reforma das leis trabalhistas, fruto de uma convergência de iniciativas do Planalto e do Congresso”, o desmonte do BNDES e “o limite constitucional para o crescimento das despesas da União”, a Emenda do teto dos gastos públicos.
Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Temer disse que suas recomendações entregues a Bolsonaro indicam mudanças que não foram possíveis concluir em sua gestão e que estavam previstas no documento “Uma Ponte Para o Futuro”, de 2015, seu programa de governo formulado para fazer a transição do golpe às eleições de 2018. Ele disse ainda acreditar que o presidente eleito dará continuidade, com adaptações, a programas já implementados.
Países centrais
Essas manifestações midiáticas são o retrato de uma prática de monopólio de opinião, uma ditadura de pensamento único, prática reiterada da direita e intensificada com a chegada da agenda neoliberal. Até o final da década de 1980, havia um debate sobre a contradição entre planejamento e liberalização, ainda que difuso. Depois que o capitalismo ganhou impulso no Brasil, com a Revolução de 1930, iniciou-se a discussão a respeito de como promover o aumento e a distribuição da renda nacional. Predominou, a princípio, a tese de que o Estado poderia estimular — e mesmo condicionar — o desenvolvimento econômico.
Na margem oposta, estava uma corrente ponderável, com os professores Eugênio Gudin e Otávio de Bulhões à frente, presa ao círculo que negava a capacidade prática planejadora do Estado, que, com a chegada do neoliberalismo, passou a predominar de forma asfixiante, uma incessante repetição de ideias simplista distante da realidade do país. Sob o pretexto de que a economia é uma ciência exata, difundem-se a esmo análises que são verdadeiras metafísicas, contendo uma falsa e vaga representação do mundo real, o uso cego de certos instrumentos teóricos de análise absorvidos no exterior, sobretudo nos Estados Unidos.
Figurino teórico
Recorrendo invariavelmente às teorias econômicas dos países centrais, esses economistas "ortodoxos" terminam por deformar a compreensão do processo econômico nacional. Esses vícios "universalistas" florescem porque os neoliberais constroem teses a respeito da economia brasileira a partir de modelos macroeconômicos com alta dose de abstração matemática. Não explicam nada concretamente.
O problema maior é que o figurino teórico deles escorrega no apreciar e definir os problemas nacionais. Questões como a melhoria dos níveis de renda, dos investimentos e do consumo não entram como a alma da economia brasileira. O desenvolvimento do país é um direito fundamental dos brasileiros, que deveriam ser corretamente informados sobre os efeitos das medidas tomadas pelo governo — coisa difícil com esse sistema de monopólio da comunicação vigente no país.
Da redação
Com seu clássico receituário direitista, o jornal afirma que Temer herdou uma grave situação deixada por Dilma Rousseff e enverada pela falsificação dos fatos para justificar o golpe de 2016 exatamente pelo viés econômico. Segundo o editorial, na “linguagem da luta no campo político-ideológico, os lulopetistas tacharam de ‘golpe’ o impeachment sofrido por Dilma Rousseff, por ela ter descumprido preceitos da Lei de Responsabilidade Fiscal”. A transferência do poder a Temer, de acordo como O Globo, foi “determinante para que a grave crise econômica, talvez a maior da história, fosse contida”.
Contas públicas
São falsos conceitos. Os anêmicos indicadores do Produto Interno Bruto (PIB) na verdade revelam que a apatia econômica tem causas bem definidas. A começar pelos reflexos da grave crise internacional, que se desdobram nos fatores que levaram o país à trágica recessão iniciada em 2015. Ao tentar enfrentar os efeitos da debacle nas economias centrais, deflagrada em 2007-2008, com a velha receita neoliberal, sob a batuta do então ministro da Fazenda Joaquim Levy — na fase mais crítica da luta do governo da presidenta Dilma Rousseff contra a fúria golpista —, o Brasil entrou na rota da estagnação e da recessão econômica.
Entre o terceiro trimestre de 2013 e o último trimestre de 2014, a economia brasileira enfrentou um ciclo de desaceleração puxado pela queda na taxa de investimento, que passou a apresentar patamares negativos a partir do segundo semestre de 2014. O problema se agravou com a Emenda Constitucional 95, que instituiu o “Novo Regime Fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União, que vigorará por vinte exercícios financeiros”, uma das primeiras medidas do governo golpista.
Mas para O Globo Temer teve “o mérito de ter montado competente equipe econômica” para conseguir “avanços substanciais na economia”, como a inflação baixa e os juros básicos de 6,5%. “Bolsonaro recebe uma economia estabilizada, pronta para crescer a taxas mais elevadas, tudo a depender das reformas, a começar pela da Previdência. Ela é essencial para o país começar a digerir a pesada herança do lulopetismo, tão pesada na enorme capacidade de deteriorar as contas públicas que a dívida interna não para de crescer em relação ao PIB”, receita o jornal.
Recomendações de Temer
O jornal Folha de S. Paulo também faz editorial nessa linha. Intitulado “A agenda retomada”, o texto diz que o “governo Temer fez modernização da economia avançar” e “Bolsonaro deve aprofundar o processo”. Também com a pregação neoliberal, o jornal derrama elogios à “modernização” dos anos 1990 e ataca a Constituição de 1988, que seria uma espécie de manual “de protecionismo e corporativismo”. “Desde então, sucessivas administrações federais puseram em marcha um lento processo de abertura e modernização, trajetória interrompida “pela euforia irresponsável a partir da segunda metade da década passada” e retomada por Temer”, diz o editorial.
A Folha de S. Paulo diz que espera que Bolsonaro “tenha a sabedoria de reconhecer essa agenda e, sem patrocinar rupturas que apenas dissipam energia, aprofundá-la”. Entre as medidas de Temer elogiadas pelo editorial estão a “reforma das leis trabalhistas, fruto de uma convergência de iniciativas do Planalto e do Congresso”, o desmonte do BNDES e “o limite constitucional para o crescimento das despesas da União”, a Emenda do teto dos gastos públicos.
Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Temer disse que suas recomendações entregues a Bolsonaro indicam mudanças que não foram possíveis concluir em sua gestão e que estavam previstas no documento “Uma Ponte Para o Futuro”, de 2015, seu programa de governo formulado para fazer a transição do golpe às eleições de 2018. Ele disse ainda acreditar que o presidente eleito dará continuidade, com adaptações, a programas já implementados.
Países centrais
Essas manifestações midiáticas são o retrato de uma prática de monopólio de opinião, uma ditadura de pensamento único, prática reiterada da direita e intensificada com a chegada da agenda neoliberal. Até o final da década de 1980, havia um debate sobre a contradição entre planejamento e liberalização, ainda que difuso. Depois que o capitalismo ganhou impulso no Brasil, com a Revolução de 1930, iniciou-se a discussão a respeito de como promover o aumento e a distribuição da renda nacional. Predominou, a princípio, a tese de que o Estado poderia estimular — e mesmo condicionar — o desenvolvimento econômico.
Na margem oposta, estava uma corrente ponderável, com os professores Eugênio Gudin e Otávio de Bulhões à frente, presa ao círculo que negava a capacidade prática planejadora do Estado, que, com a chegada do neoliberalismo, passou a predominar de forma asfixiante, uma incessante repetição de ideias simplista distante da realidade do país. Sob o pretexto de que a economia é uma ciência exata, difundem-se a esmo análises que são verdadeiras metafísicas, contendo uma falsa e vaga representação do mundo real, o uso cego de certos instrumentos teóricos de análise absorvidos no exterior, sobretudo nos Estados Unidos.
Figurino teórico
Recorrendo invariavelmente às teorias econômicas dos países centrais, esses economistas "ortodoxos" terminam por deformar a compreensão do processo econômico nacional. Esses vícios "universalistas" florescem porque os neoliberais constroem teses a respeito da economia brasileira a partir de modelos macroeconômicos com alta dose de abstração matemática. Não explicam nada concretamente.
O problema maior é que o figurino teórico deles escorrega no apreciar e definir os problemas nacionais. Questões como a melhoria dos níveis de renda, dos investimentos e do consumo não entram como a alma da economia brasileira. O desenvolvimento do país é um direito fundamental dos brasileiros, que deveriam ser corretamente informados sobre os efeitos das medidas tomadas pelo governo — coisa difícil com esse sistema de monopólio da comunicação vigente no país.
Da redação
Vermelho