Cenário crítico ocorreria caso o novo presidente eleito fosse contra reformas

Danielle Brant

NOVA YORK

O mundo e o Brasil estão conspirando para um dólar mais forte no fim deste ano.

A disputa comercial entre China, Estados Unidos e Europa e a incerteza em torno das eleições presidenciais de outubro fizeram economistas avaliarem que ainda há espaço para a moeda americana se valorizar mais.

No Bank of America Merrill Lynch, a projeção para o real só desce a ladeira neste ano de mãos dadas com a expectativa para o crescimento econômico brasileiro.

Em relatório divulgado nesta segunda-feira (2), os analistas do banco revisaram a perspetiva para o real de R$ 3,52 para R$ 3,65 no fim de 2018.

Para o próximo ano, a projeção ficou quase estável, ao passar de R$ 3,71 para R$ 3,72.

O exterior ainda é o fator preponderante para a desvalorização do real e de outras moedas no mundo.

"O estímulo fiscal está levando a um crescimento americano maior em comparação com o restante do mundo, onde o crescimento vacila", indica o banco.

"Um aumento no protecionismo comercial elevaria a aversão a risco global e afetaria desproporcionalmente outros países por causa de sua abertura econômica."

Especificamente para a moeda brasileira, o fator doméstico começa a pesar.

"O risco cresceu agudamente nas últimas semanas em meio à piora do cenário externo, ao aumento das preocupações com as eleições do Brasil e com o maior impacto da paralisação dos caminhoneiros na economia", dizem os analistas David Beker e Ana Madeira no relatório.

Nos próximos meses, as incertezas eleitorais devem assumir o protagonismo sobre o comportamento do dólar, conforme a divulgação de pesquisas se tornar mais frequente e as alianças forem forjadas, indica o banco.

No pior cenário que traçou, com a vitória de um candidato com agenda contrária à do mercado e com grandes dúvidas sobre sua governabilidade, o banco espera que o real atinja R$ 5,50 em 2019.

A inflação iria a 7%, e o PIB (Produto Interno Bruto) teria queda.

Bruno Braizinha, analista da área de alocação global de ativos do Société Générale, também esboça preocupação com as eleições.

"Algumas pesquisas dizem que Jair Bolsonaro vai ganhar, independentemente do cenário. Outras dizem que vai perder. Não há clareza."

Mas, acima de tudo, a valorização do dólar é fruto de um sentimento global de aversão a risco, diz.

Sentimento esse ancorado na desaceleração do crescimento econômico mundial e, mais recentemente, nas tensões comerciais entre EUA, China e Europa, que podem gerar um aumento do protecionismo global e contribuir para a valorização do dólar.

"Há blocos que perdem menos em uma guerra comercial, e os EUA são um desses que perdem menos, porque têm mais munição para enfrentar essa guerra", diz.

O aumento do risco gera um fluxo maior de compra de dólar, ativo considerado seguro, completa. "O dólar vai continuar a se apreciar em uma escalada das tensões comerciais ante moedas emergentes e também ante o euro."

Nafez Zouk, estrategista global de macroeconomia da Oxford Economics, também associa o risco de um comércio mais fraco no mundo a um fortalecimento do dólar. Para ele, isso só contribuiria para o agravamento das tensões.

"Um dólar mais forte por causa, em parte, do aumento da demanda por ativos mais seguros em um mundo com volatilidade crescente acrescentaria pressão adicional ao comércio, que já está vendo uma intensificação das tensões entre EUA e China."

Sem ação do BC, moeda americana fecha acima de R$ 3,90

São Paulo"‚A expectativa de acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China fez com que o segundo semestre deste ano começasse com perspectiva negativa para o mercado financeiro.

O dólar avançou sobre a maioria das moedas emergentes e fechou acima dos R$ 3,90 nesta segunda-feira (2) pela primeira vez em quase um mês.

Na próxima sexta-feira (6) entrarão em vigor as tarifas impostas pelo governo Donald Trump a US$ 34 bilhões (R$ 132,8 bilhões) em produtos chineses, mais um passo do conflito que se desenha desde março.

De uma cesta de 24 divisas, o dólar avançou sobre 22 delas.

O dólar subiu 0,59%, a R$ 3,9120, o maior patamar de fechamento desde 7 de junho.

Naquele dia, o Banco Central havia começado a intervir no mercado para conter a disparada da moeda.

A atuação, que foi agressiva na primeira semana, começou a arrefecer.

Na semana passada, o órgão fez apenas duas intervenções extras, por meio de leilões de linha (venda de dólares com o compromisso de recompra).

Foram colocados cerca de US$ 3 bilhões (R$ 11,7 bilhões) no mercado.

Nas semanas anteriores, o Banco Central vinha atuando no mercado com a oferta de contratos de swap cambial (que equivalem à venda de dólares no mercado futuro).

Desde que essas ações deixaram de ser realizadas, o dólar já subiu 3,4%.

As Bolsas mundiais também sentiram durante grande parte desta segunda o impacto da crise comercial.

Na Europa e na Ásia, os principais índices fecharam no vermelho.

As Bolsas americanas caíram durante boa parte dos negócios, mas inverteram o sinal após o governo Trump anunciar que seria prematuro deixar a OMC (Organização Mundial do Comércio).

Fonte: Folha de S.Paulo, 4 de julho de 2018.


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