Pesquisa Indicadores Conjunturais, realizada pela Fiep, apresentou recuo de 2,16% em 2017; mas regressão nos índices sinaliza para recuperação do setor

               

Shutterstock - Setor da Madeira registrou crescimento de 17,34% no período avaliado pela pesquisa
Setor da Madeira registrou crescimento de 17,34% no período avaliado pela pesquisa 

                

Pelo quarto ano consecutivo as vendas industriais reais paranaenses tiveram desempenho negativo, acumulando retração de 23,16%. Foi isso que a pesquisa Indicadores Conjunturais, realizada pela Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) trouxe à tona nesta terça-feira (6), ao apresentar o recuo anual mais recente, de 2,16% em 2017, seguido por 7,40% de redução em 2016, 8,44% em 2015 e, 6,40% de baixa em 2015, completando a sequência negativa inédita na série histórica iniciada em 1986. 

O indicador materializa o estranhamento causado pelo distanciamento entre a melhora de diversos indicadores econômicos ao longo do ano que passou, mas que não se refletiu na geração de riqueza, muito menos na recuperação do emprego industrial que, segundo esse mesmo estudo, diminuiu o número de empregados de 2016 para 2017 em 5,56% e, dentre as vagas diretamente vinculadas à produção, encolheu em 8,24% o total de trabalhadores. 


Para o economista, conselheiro do Corecon-PR (Conselho Regional de Economia do Paraná), professor do Centro Universitário Internacional Uninter e da Escola de Gestão da Fiep e consultor, Daniel Poit, tais dados retratam o conjunto de "variáveis negativas combinadas no ambiente de negócios brasileiro que inibem o desenvolvimento da indústria". "Há muito tempo e antes mesmo da crise vivemos um processo gradativo e contínuo de desindustrialização por conta de problemas históricos envolvendo os custos elevados de se investir no Brasil, sobretudo no que se refere à logística e à altíssima carga tributária, arranjos institucionais perversos e ineficientes envolvendo tanto abertura quanto fechamento de empresas, dificuldade no registro de patentes que contribuem diretamente para o baixo grau de inovação dada à insegurança jurídica e à qualidade ruim da educação", dispara. 


O economista da Fiep Roberto Zurcher, que há anos traz dados sobre a desindustrialização no Brasil, reforça que, além dos entraves citados por Poit, o fraco desempenho do faturamento industrial também é afetado por questões brasileiras como os gastos públicos crescentes e reduzida produtividade, infraestrutura deficiente e repleta de gargalos, e baixos níveis de poupança e de investimento. "Estes são alguns dos fatores restritivos que determinam taxas de crescimento econômico descolados do potencial de recursos disponíveis para transformação em riqueza", comenta o economista. 

                     

DESINDUSTRIALIZAÇÃO 

Poit resgata que mesmo no período anterior a 2014, de relativo bem-estar econômico, a desindustrialização já acometia o realidade nacional e estadual por conta da dificuldade de se produzir de forma competitiva no Brasil. "Setor que puxou a renda nacional foi relacionado à máquina pública, que elevou brutalmente sua renda, principalmente os servidores federais, que puxaram o bom desempenho do comércio e dos serviços. Mas as vendas industriais, salvo aquilo em que o custo de se importar torna o produto de fora mais caro que o produzido na planta nacional, foram perdendo vigor a ponto de observarmos o movimento de empresários daqui instalando unidades no Paraguai e países vizinhos por não compensar produzir no Brasil", contextualiza Poit. 

Esse cenário também serve para esclarecer os dados setoriais dos Indicadores Conjunturais da Fiep sobre 2017. Com menos vendas e menor número de pessoal empregado, as indústrias reduziram as compras de insumos em 2017, em 5,42% na comparação ao mesmo período de 2016. Já o desempenho anual negativo nas vendas industriais reais no Paraná atingiu dez dos 18 grupos analisados pela pesquisa, sendo que os três primeiros colocados nos grupos com maior crescimento positivo são da indústria primária, setor da Madeira com 17,34% de alta, 'Minerais não Metálicos com 14,07% de aumento e Celulose e Papel que registrou incremento de 11,74% em relação a 2016. "São setores da indústria primária, com um primeiro beneficiamento das commodities, ou seja, de menor valor agregado, reforçando a realidade da falta de competitividade da nossa indústria por conta do ambiente de negócios desfavorável no Brasil", ressalta. 

                               

SEGURANÇA PÚBLICA E CUSTO DO DINHEIRO

Dos setores que amargaram as piores quedas nas vendas industriais reais em 2017, Refino de Petróleo e Produção de Álcool encolheu 18,54%, 'Borracha e Plásticos caiu 13,58% e Couros e Calçados recuou 11,84%. "Há de se observar que o setor de Refino de Petróleo e Produção de Álcool teve o desempenho afetado pela queda no consumo, uma vez que o valor do combustível disparou em detrimento da queda na renda da população de um modo geral. Como saída, as pessoas deixaram de usar o automóvel com a mesma frequência", orienta Poit. 

Além dos gargalos históricos, o faturamento industrial vem sendo afetado por problemas envolvendo falta de segurança pública e o elevado custo do dinheiro para produzir no Brasil. "O custo do dinheiro no Brasil, o crédito é muito difícil para o industrial, principalmente para o pequeno e médio industrial, o que limita o desenvolvimento da indústria. Soma-se a isso, ao aumento da violência que já levou empresas a fecharem as portas por não dar conta de perdas sucessivas com arrombamentos em um curto espaço de tempo", revela. 

Ainda dentro do conjunto de fatores que explicam o quadriênio de queda livre, há o aspecto cultural no País que é a combinação da má qualificação da mão de obra somada à falta de entendimento da sociedade como agente de desenvolvimento. "Nossa cultura ainda não trata a empresa como o ente social que participa e evolui com a sociedade", constata. 

                 

RECUPERAÇÃO 

A expectativa é que em 2018 a indústria paranaense continue caminhando para a recuperação. Segundo Zurcher, este caminho terá que ser marcado por muita perseverança e disciplina para atingir o nível de 2013. "Após esses últimos quatro anos de queda no faturamento real, os indicadores mostram que 2018 terá vendas industriais superiores a 2017 em menor ou maior grau dependendo das reformas estruturais que venham ou não a serem implantadas", comenta. 

Segundo análise da Fiep, a tendência é que o nível de emprego também dê sinais de recomposição, mas certamente numa proporção menor, pois a partir de agora volta e deve ser enfatizada a recuperação da produtividade também perdida nos últimos anos.

                    

Fonte: Folha de Londrina, 07 de fevereiro de 2018

                        


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