Trinta anos atrás, o Brasil conhecia uma nova moeda, o Real. Produto de muita negociação política, o engenhoso plano econômico foi bem sucedido porque a sociedade decidiu que não mais aceitava conviver com a hiperinflação, que corroía o bolso e a esperança. E impôs limites aos políticos em gastos inflacionários. Desde então, os preços e a percepção que a população tem sobre o custo de vida são assuntos centrais para governos de diferentes colorações.

Seguir respeitando esse limite é um desafio permanente. Governos precisam de dinheiro para cumprir promessas e, em anos de eleição, querem aumentar os gastos. Lula, em sua terceira passagem pelo Planalto, segue o roteiro de administrações anteriores, anunciando obras e realizações. O dinheiro, no entanto, está mais escasso. A crise econômica pós-pandemia ainda não foi completamente debelada e tem limitado governantes mundo afora — a economia americana cresce,  mas a inflação segue alta.

Pesquisa Genial/Quaest deste mês mostra que 67% dos brasileiros acham que perderam poder de compra nos últimos doze meses. Para 73%, o preço dos alimentos subiu em um mês. E 62% dizem que o valor das contas de água e luz está mais alto. Segundo a pesquisa, 48% pensam que a economia vai melhorar — eram 62% em fevereiro do ano passado, logo depois da posse de Lula.

Os dados da pesquisa indicam um clima de apreensão para o governo — 63% afirmam que Lula não está conseguindo cumprir suas promessas, e 49% acham que o país vai na direção errada, apesar de metade da população (51%) considerar que o presidente é bem intencionado. Nos dois primeiros mandatos, Lula surfou na bonança econômica proporcionada por um ciclo de alta nos preços das matérias-primas. Isso ficou na memória. O problema é a realidade do dia: o governo não tem dinheiro suficiente para pagar todas as suas promessas. Alguma decepção será inevitável, já indicam as pesquisas.

AUTORIA

Lydia Medeiros

LYDIA MEDEIROS Jornalista formada pela Universidade de Brasília, foi titular da coluna Poder em Jogo, em O Globo (2017-2018). Atuou ainda em veículos como O Globo, Folha de S.Paulo, Época e Correio Braziliense. Foi diretora da FSB Comunicações, onde coordenou o atendimento a corporações e atuou na definição de políticas de comunicação e gestão de imagem.

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