Enquanto o Brasil se mobiliza, solidário às perdas sofridas pelos nossos irmãos gaúchos e oferece todo tipo de ajuda emergencial, os efeitos de médio e longo prazo das enchentes já começam a desenhar um novo cenário. As imagens de destruição são apenas a superfície de um problema que se estende para além da emergência imediata, desencadeando um aumento dos riscos políticos e econômicos.

O Rio Grande do Sul, que é um dos principais produtores de commodities como arroz, soja e milho, enfrenta sérias perdas. Estima-se que até 11% da produção de arroz foi comprometida, o que representa um prejuízo significativo não apenas para a economia local mas para todo o país, dada a contribuição do estado para o PIB nacional. As interrupções nas estradas e problemas logísticos associados também estão impedindo o escoamento normal dos produtos, o que pode resultar em escassez temporária e aumento de preços, afetando direta e negativamente as margens de lucro de empresas dependentes desses insumos.

Além dos impactos econômicos diretos, a situação desencadeia sérios riscos políticos associados ao aumento dos “ambientalmente deslocados”. Grandes movimentos de populações deslocadas podem agravar tensões sociais nas comunidades receptoras e sobrecarregar infraestruturas e serviços locais. A capacidade do governo de gerenciar essas migrações, prover suporte adequado e integrar essas pessoas em novos locais é fundamental para prevenir conflitos e garantir a estabilidade política. A percepção de que o governo é incapaz de gerir essas crises pode erodir ainda mais a confiança pública nas instituições e em sua capacidade de governar efetivamente.

O possível aumento nos preços dos alimentos devido à escassez de produtos é uma preocupação iminente. O governo já considera a importação de grãos como uma medida emergencial para evitar uma crise de abastecimento. Esta ação, embora possa estabilizar os preços, altera as dinâmicas do mercado e pode influenciar estratégias empresariais de médio e longo prazo. Empresas que operam com produtos agrícolas como matéria-prima deverão ajustar suas estratégias de operação e financeira para lidar com essas flutuações.

A recuperação das áreas afetadas demandará investimentos substanciais em infraestrutura e pode levar um tempo considerável. Este cenário impõe desafios adicionais para as empresas operando na região, que podem enfrentar períodos prolongados de operação subótima e custos elevados de recuperação. A capacidade do governo de responder eficientemente a esses desafios será decisiva e pode influenciar decisões futuras de investimento e expansão empresarial.

A eficácia das medidas governamentais em resposta às enchentes e sua capacidade de mitigar os impactos econômicos também são fatores críticos que podem afetar a estabilidade política e econômica. A percepção de competência governamental, tanto em nível estadual quanto federal, pode influenciar significativamente a confiança empresarial, impactando decisões estratégicas a longo prazo.

As enchentes no Rio Grande do Sul são uma triste demonstração de como desastres naturais, economia e política se conectam. Neste momento crítico, enquanto enfrentamos os desafios imediatos, é essencial também olhar adiante, planejando e implementando estratégias que, além de mitigar os efeitos de tais desastres, também fortaleçam nossa capacidade de resposta e resiliência econômica e social para o futuro.

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AUTORIA

Eduardo Galvão

EDUARDO GALVÃO Executivo, professor de Relações Governamentais e de Políticas Públicas no Ibmec e fundador do Pensar RelGov. Atuou como executivo da Abimaq.

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