Especialistas afirmam que nem toda a população que deixou a força de trabalho em 2020 por causa da situação sanitária retornou.

Por Lucianne Carneiro, Valor — Rio

O mercado de trabalho dá sinais de recuperação, com avanço da população ocupada e queda de desempregados. Esses números estão em situação melhor que antes da pandemia, ainda que acompanhados de elevada informalidade e renda abaixo de 2021. Um indicador que ainda não se recuperou, porém, é a chamada taxa de participação, que mede a parcela da população em idade de trabalhar que está empregada ou procurando trabalho. A taxa caiu muito no início da crise sanitária e vem crescendo, mas ainda está em 62,7% no trimestre encerrado em julho, pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. Na média de 2017 a 2019, era de 63,4% e estava em 63,6% no quarto trimestre de 2019.

Para explicar esse movimento, especialistas afirmam que nem toda a população que deixou a força de trabalho em 2020 por causa da situação sanitária retornou. O contingente de pessoas nesta situação estava em 64,6 milhões no trimestre encerrado em julho de 2022. O número ainda é maior que antes da crise sanitária (era de 61,5 milhões no quarto trimestre de 2019), mas representa forte queda frente ao pico de 73,6 milhões registrado no trimestre de maio a julho de 2020.

Na lista de possíveis influências para que parte das pessoas permaneça fora da força de trabalho, especialistas apontam o aumento do valor do Auxílio Brasil — que foi elevado no fim de 2021 em relação ao que era pago pelo Bolsa Família —, a perda de experiência de trabalhadores e alguma mudança na estrutura do mercado de trabalho no pós-pandemia e nas decisões das famílias em relação à oferta de trabalho. Além disso, lembram que, por causa do perfil desta crise, muitos dos trabalhadores ocupados passaram diretamente para a inatividade.