Diretor técnico do Dieese defende "diálogo propositivo de compromisso" com empresários. Ele acredita que momento adverso pode ser "oportunidade para uma reorganização sindical profunda".

                      

 "Precisamos abrir um diálogo propositivo de compromissos com o setor produtivo brasileiro", defende o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, ao identificar um processo de desmonte na economia nacional. "Estamos destruindo de forma sistemática a nossa estrutura produtiva industrial", afirmou, durante debate realizado na manhã de hoje (15) no instituto, com a presença do ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, da pesquisadora da Unicamp Marilane Oliveira Teixeira e dirigentes metalúrgicos ligados a diversas centrais.

Atualmente, diz o diretor técnico, o Brasil passa por um processo de transferência de recursos internacionais para o capital internacional. "Estamos transferindo, a preço barato, recursos e base produtiva", afirma Clemente, para quem um projeto de desenvolvimento deve ter o setor industrial como eixo. 

Isso também depende de um Estado presente na economia, acrescenta. "As experiências de sociedades que promoveram o seu desenvolvimento o fizeram com forte capacidade de organização de seu Estado, regulando a atividade econômica e produzindo condições macroeconômicas" e assegurando condições para a indústria competir no cenário internacional e de distribuição de renda. 

Não é um debate fácil, admite Clemente, ao observar que as propostas defendidas por Bresser-Pereira, como valorização do câmbio, podem causar perda salarial. Mas é necessário abrir diálogo com o setor empresarial, defende, mesmo sabendo que muitas empresas, hoje, não têm exatamente um "proprietário", mas fundos de investimentos preocupados em garantir o maior retorno no menor prazo possível. 

Ele acredita que seria necessário um período de transição para o modelo proposto por Bresser-Pereira, considerando que muitas indústrias estão endividadas em dólar. Mas é preciso pensar em uma "reversão das maluquices que estão sendo feitas agora", referindo-se às políticas do governo Temer. "O Brasil está sendo entregue. Estamos entregando a nossa economia ao mundo. Com essa política em curso, não há desenvolvimento econômico, não há desenvolvimento industrial, muito menos bem-estar social e qualidade de vida", afirma. "O capital financeiro, manda, comanda e desmobiliza."

Sobre a "reforma" trabalhista, que atinge fortemente a organização sindical, ele acredita que, apesar das dificuldades, este pode ser o momento para uma reorganização profunda. "Podemos sair muito mais fortes. Precisamos ter a clareza de que no jogo social a partida não acaba nunca. Não é só um problema de procurar o nosso interlocutor. Temos de reorganizar o trabalho, ou vamos consolidar uma derrota", diz o diretor técnico. "Talvez os trabalhadores nunca tenham tido tanta necessidade de que nós sejamos capazes de construir unidade."

                      

Fonte: Rede Brasil Atual, 16 de agosto de 2017