CONJUNTURA
Desemprego no país tem novo recuo em agosto em duas pesquisas divulgadas ontem -- Pnad e Caged -- e número de empregados bate recorde chegando a 102,5 milhões
A semana termina com a divulgação de dois dados positivos do mercado de trabalho. A taxa de desemprego no Brasil caiu a 6,6% no trimestre encerrado em agosto, uma redução de 1,2 ponto percentual em relação ao mesmo período de 2023. Conforme os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa foi a menor taxa para um trimestre encerrado em agosto na série histórica, iniciada em 2012.
Com os resultados computados pelo órgão do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), a população desocupada chegou a 7,3 milhões de pessoas — o menor número de pessoas procurando trabalho desde o trimestre encerrado em janeiro de 2015. O número total de trabalhadores ocupados no país Brasil bateu novo recorde, somando 102,5 milhões.
A população ocupada do país cresceu 1,2% no trimestre, ganhando mais 1,2 milhão de trabalhadores. Frente ao mesmo trimestre móvel do ano passado, esse contingente avançou 2,9%, aumento de 2,9 milhões de pessoas.
Para a coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, Adriana Beringuy, "a baixa desocupação reflete a expansão da demanda por trabalhadores em diversas atividades econômicas, levando a taxa de desocupação para valores próximos ao de 2013, quando esse indicador estava em seu menor patamar".
Entre os empregados com carteira assinada, o número absoluto de profissionais chegou a 38,6 milhões, maior patamar da série histórica. Contra o trimestre anterior, a alta foi de 0,8%, agregando 317 mil pessoas ao grupo. Contra o mesmo trimestre do ano passado, o ganho é de 3,8%, o que equivale a 1,4 milhão de trabalhadores a mais.
Já os trabalhadores informais, ou seja, sem carteira assinada, somaram 14,2 milhões, também volume recorde. A alta para o trimestre foi de 4,1%, aumento de 565 mil trabalhadores no grupo. No comparativo com 2023, houve aumento de 7,9%, ou de 1 milhão de pessoas.
A taxa de subutilização, que faz a relação entre desocupados, quem poderia trabalhar mais e quem não quer trabalhar com toda a força de trabalho, segue em tendência de baixa. São 18,5 milhões de pessoas subutilizadas no país, o que gera uma taxa de 16% de subutilização. Já a população desalentada, que não procura trabalho, caiu a 3,1 milhões, em seu menor contingente desde o trimestre encerrado em maio de 2016 (3 milhões). Há recuo de 5,9% no trimestre e de 12,4% contra o mesmo período de 2023.
Para o economista do PicPay, Igor Cadilhac, a configuração de recorde de ocupação é o que se espera de um "mercado de trabalho robusto". "De modo geral, a leitura qualitativa do indicador é de que o mercado de trabalho segue forte e com uma composição saudável, recuperando suas características intrínsecas, que agora estão com um desemprego estrutural mais baixo", avaliou.
"Olhando à frente, esperamos que ele continue aquecido e resista nesse patamar historicamente baixo por mais um bom tempo", acrescentou. Para 2024, o economista projeta uma taxa média de desemprego de 7,1%, terminando o ano em 6,6%.
Massa salarial
No trimestre encerrado em agosto, o rendimento médio real das pessoas ocupadas foi de R$ 3.228, sem mostrar variação estatisticamente significativa frente ao trimestre móvel anterior e com alta de 5,1% na comparação com o mesmo trimestre móvel de 2023. Já a massa de rendimentos, que é a soma das remunerações de todos os trabalhadores, chegou a R$ 326,2 bilhões, mostrando altas de 1,7% no trimestre e de 8,3% na comparação anual.
"Esse aumento no rendimento real é um fator crucial para a sustentação do consumo das famílias, um dos principais motores da economia", destacou Arnaldo Lima, líder de relações institucionais da Polo Capital. "A elevação da massa de rendimentos pode gerar um efeito multiplicador na economia, ampliando o poder de compra e incentivando o comércio e o setor de serviços, contribuindo para uma sustentação do crescimento econômico, que os analistas de mercado projetam em 3% em 2024 e 1,9% em 2025", completou.
Carteira assinada
O Brasil abriu 232,5 mil postos de trabalho com carteira assinada em agosto, número superior a julho, quando foram criados 188.021 empregos formais. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o saldo foi resultado de 2,231 milhões de contratações e 1,998 milhão de demissões.
O emprego cresceu em todos os estados brasileiros e nos cinco grandes grupamentos de atividades econômicas, com destaque para o setor de serviços, que gerou 118.364 postos no mês. De acordo com o ministro do Trabalho em exercício, Francisco Macena, o bom resultado do emprego formal aconteceu devido ao inicio do ciclo de corte na taxa básica da economia (Selic), que começou a cair em agosto de 2023, quando estava em 13,75% ano e caiu até 10,50% ano. Mas, voltou a subir na semana passada. "Ficamos atentos e preocupados com o movimento que é feito pelo Banco Central, e, principalmente, com o que a gente presencia pela imprensa, de alguns analistas do mercado, que ficam apontando o emprego e o aumento da renda como fatores que pressionam o consumo e a inflação", afirmou.
No acumulado do ano, de janeiro a agosto, os dados do Caged apontam a criação de 1.726.489 vagas de emprego formal e, nos últimos 12 meses, o saldo registrado chegou a 1.790.541 novos postos de trabalho. Para Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, a criação de cargos das expectativas demonstra que as empresas estão mais confiantes na demanda futura, mesmo com os desafios econômicos atuais. "Entretanto, olhando adiante, a manutenção desse ritmo de crescimento da economia depende de fatores como políticas fiscais, juros internos e internacionais, além da estabilidade na inflação", avaliou. "Caso o cenário inflacionário demonstre controle, o mercado de trabalho pode continuar a expandir de forma sustentável, favorecendo o consumo e impulsionando setores diretamente ligados à economia doméstica, como o varejo e a indústria", projetou.
Vale lembrar que a Pnad é uma pesquisa mais completa sobre o comportamento e situação do mercado de trabalho geral, especialmente pela grande quantidade de trabalhadores informais. O Caged, por sua vez, é a fonte mais confiável para os dados de emprego formal.
CORREIO BRAZILIENSE