Por Sara Resende

Nos bastidores, senadores criticam a forte influência de Davi Alcolumbre (União-AP) sobre a gestão do presidente do SenadoRodrigo Pacheco (PSD-MG), e avaliam que isso pode tirar votos do senador mineiro, que disputa a reeleição ao cargo.

Um aliado de Pacheco admite que, nos últimos dias, o senador deve ter perdido nove votos diante das reclamações em relação a Alcolumbre, que conduz as articulações pela reeleição.

Mesmo com a debandada, ele prevê que não há a "menor chance" de Pacheco perder.

A principal queixa dos parlamentares é a falta de uma divisão mais igualitária dos cargos da Mesa Diretora e das presidências das comissões.

Outra reclamação é o "apagão" da principal comissão da Casa, a comissão de Constituição e Justiça (CCJ), presidida por Davi Alcolumbre.

No ano passado, a CCJ realizou apenas 11 reuniões para votar projetos e indicações de autoridades. O colegiado se reuniu menos de uma vez por mês, pela média.

Parlamentar de um partido independente na eleição definiu Pacheco como "peça decorativa" e afirmou que a "atuação de Alcolumbre atende a poucos e gera dissabores".

Para o senador, a CCJ parada torna o Senado "disfuncional".

Ele classifica como "competitiva" a candidatura do principal adversário do presidente do Senado na eleição da Mesa, Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro do Desenvolvimento Regional do governo Jair Bolsonaro.

Segundo ele, Alcolumbre "financiou" a primeira candidatura de Pacheco, há dois anos, negociando o extinto "orçamento secreto"- verbas para indicações de investimentos nos municípios que eram divididas entre os parlamentares sem critérios transparentes.

Alcolumbre foi presidente do Senado de 2019 a 2021 e depois foi cabo eleitoral de Pacheco.

Apesar de ter sido aliado de Jair Bolsonaro, o senador do Amapá construiu uma relação próxima com o presidente Lula (PT) e conseguiu indicar três aliados para ministérios, especialmente o ex-governador do Amapá Waldez Goes para Integração Nacional.

No anúncio do nome de Waldez para a pasta, Lula agradeceu nominalmente a Alcolumbre.

Surpresa

Dois senadores do partido de Pacheco, o PSD, avaliam que o resultado da eleição para a Mesa do Senado pode surpreender e será disputada.

De acordo com um deles, "Pacheco não é PSD, é Davi". Pontuou que é uma "reclamação geral" a influência de Alcolumbre sobre a Presidência.

O parlamentar disse que o presidente da Casa é "levemente favorito" para vencer. De acordo com ele, os atentados de terroristas bolsonaristas no dia 8 de janeiro dão força a Pacheco, que repudiou os atos, diferente de Marinho.

O outro membro da legenda avaliou que o fato de Alcolumbre querer disputar novamente a Presidência da Casa daqui a dois anos é um fator que "complica" a situação de Pacheco e afasta votos.

Senadores temem uma hegemonia do grupo político do amapaense e querem ter mais visibilidade nesta legislatura porque terão de concorrer a reeleição daqui a quatro anos. Em 2026, 54 vagas no Senado estarão em disputa.

Conforme esse congressista, como o voto é secreto, muitas traições de supostos aliados podem acontecer. Ele usou o exemplo do senador eleito Sérgio Moro, que é do União, mesmo partido de Alcolumbre, mas que não deve votar em Pacheco para se opor ao governo Lula.

Um terceiro membro do PSD minimizou a situação e disse ter "certeza" da vitória de Pacheco. Para ele, nenhum aliado de Bolsonaro tem chance de vencer a eleição interna após as depredações dos prédios dos poderes.

Ele explica que PSD, MDB, União e Rede estão do lado do mineiro. Nesta segunda-feira (23), o PDT declarou publicamente apoio a Pacheco.

Uma pessoa próxima a Marinho disse que o senador eleito está "confiante" e confirmou que as apostas do candidato estão em partidos aliados de Pacheco, mas cujos senadores estão indecisos, caso do PSD, que vai reunir a bancada na sexta-feira (27) para discutir o pleito.

"Davi é quem manda realmente", afirmou.

Pessoa ligada a Pacheco afirmou que "nenhum acordo entre senadores passará sem o seu consentimento" e que "todas as decisões ao longo dos últimos dois anos tiveram a atuação do presidente".

PP, PSDB e Podemos, por exemplo, ainda não definiram posição.

Se conseguir se reeleger, Pacheco não deve acomodar o PL, de Rogério Marinho, em nenhuma comissão nem na Mesa Diretora. O partido será a maior bancada do Senado, com 15 representantes. O PSD, a segunda maior, com 12, busca filiar mais parlamentares para se equiparar.

Pacheco deve manter Veneziano Vital do Rego (MDB-PB) como primeiro vice-presidente e Alcolumbre no comando da CCJ.

Rede bolsonarista

Na última semana, vários senadores receberam mensagens em série contra a reeleição de Pacheco. Neste fim de semana, o gabinete de uma parlamentar recebeu mais de 2 mil e-mails. As mensagens dizem "mal elemento vota em Pacheco" e "você será expulsa da vida política".

Congressistas atribuem a autoria à rede bolsonarista e classificam que essa "pressão" pode até favorecer Pacheco.

G1

https://g1.globo.com/economia/blog/ana-flor/post/2023/01/25/influencia-de-alcolumbre-gera-incomodo-e-pode-tirar-votos-de-pacheco-avaliam-senadores.ghtml