A Cesta Básica aumentou, em média, 15,32% e a inflação medida pelo IPCA, 8,73%, nos últimos 12 meses

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Com o avanço da inflação e da taxa básica de juros, a vida do brasileiro ficou bem difícil nos últimos meses. O IPCA mediu 8,73% nos últimos 12 meses, marcados por deflação de 0,68% em julho e de 0,36% em agosto. Do início do ano até julho de 2022, o acumulado de 12 meses passava de dois dígitos.

Como o maior peso do índice inflacionário está nos alimentos e bebidas (23,12%), são relevantes os 15,32% de aumento médio da cesta básica no mesmo período, medido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O maior aumento foi em Recife (21,71%) e, o menor, em Porto Alegre (12,55%).

Os produtos da Cesta Básica e suas respectivas quantidades mensais são diferentes por região e foram definidos pelo Decreto Lei nº 399 de 1938. Os alimentos são: carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, tomate, pão, café, banana, açúcar, óleo e manteiga.

Nem todos os ingredientes da cesta básica são pesquisados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), unidade da Universidade de São Paulo (USP), mas os preços de alguns produtos que têm ligação com eles são publicados e os dados podem ser confrontados.

Em relação à carne, o Cepea apresenta os preços dos bovinos machos, com 16 ou mais arrobas líquidas de carcaça e idade máxima de 42 meses, com queda de 0,55% entre agosto de 2021 e agosto de 2022. O suíno vivo, entre 80 e 120 quilos, teve aumento de 3,33%, considerando a média de preços dos estados pesquisados. O preço do frango congelado e resfriado aumentou 0,5% no período.

A saca de 50 kg do arroz em casca teve queda de 0,93%. já o trigo Tipo 1, matéria-prima da farinha, que serve para fabricar o pão, apresentou alta de 21,72%. Os motivos são as baixas temperaturas, a seca, o câmbio e o conflito entre Rússia e Ucrânia. A saca de 60 kg do café arábica tipo 6 apresentou uma alta ainda mais expressiva: 25,94%

O açúcar cristal, que também contempla a cesta básica, apresentou alta de 0,34%. Embora o Cepea não tenha a pesquisa do preço do óleo, traz os valores da soja em grão a granel tipo exportação no porto de Paranaguá (PR): alta de 9,42%.

A média percentual da diferença de preços entre os meses de agosto de 2021 e 2022 pesquisados pelo Cepea foi de 7,47%, próximo da taxa inflacionária, mas distante do aumento médio do valor da cesta básica.

Considerando que nem todos os produtos serviram de base para comparação, a exemplo do leite, que sofreu elevação considerável de preços nos últimos meses, e que existe uma diferença de valores entre o preço no produtor e o preço nos supermercados, talvez seja possível inferir que metade das altas seja proveniente dos custos com frete, do lucro dos intermediários e dos impostos.

Alimentação é uma necessidade básica, uma questão de sobrevivência e as receitas não acompanharam essa alta de preços, motivo pelo qual os brasileiros precisaram adequar aquilo que estão colocando à mesa com o apertado orçamento.

De acordo com o relatório Focus distribuído pelo Banco Central do Brasil, a expectativa é encerrar o ano de 2022 com a inflação em 6% e, para 2023, a projeção é de 5,01%.

Considerando que a queda da taxa pode ter sido impactada pela contração dos preços dos combustíveis – em razão da redução dos impostos, que não devem ser permanentes – é possível que se houver um alívio no bolso do cidadão, não seja impactante.

Se as expectativas de crescimento do PIB não são animadoras (0,5% para 2023), será preciso manter a austeridade com o orçamento, porque a inflação nos alimentos não deve dar trégua.

Eli Borochovicius Eli Borochovicius é docente de finanças na PUC-Campinas. Doutor e Mestre em Educação pela PUC-Campinas, com estágio doutoral na Macquarie University (Austrália). Possui MBA em gestão pela FGV/Babson College (Estados Unidos), Pós-Graduação na USP em Política e Estratégia, graduado em Administração com linha de formação em Comércio Exterior e diplomado pela ADESG. Acumulou mais de 20 anos de experiência na área financeira, tendo ocupado o cargo de CFO no exterior. Possui artigos científicos em Qualis Capes A1 e A2 e é colunista do quadro Descomplicando a Economia da Rádio Brasil Campinas

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