Em uma semana, apoio dos evangélicos ao ex-presidente subiu de 27% para 31% no primeiro turno – e de 33% para 38% no segundo turno

O voto evangélico, um dos principais redutos eleitorais do presidente Jair Bolsonaro (PL), está em disputa. A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) definiu que, daqui até o fim da eleição 2022, uma das prioridades é dialogar com eleitores ligados à religião, em especial as neopentecostais. Segundo o Ipec, esses evangélicos representam cerca de 25% do eleitorado brasileiro.

Na sexta-feira (9), Lula participou de um encontro com pastores em um centro cultural de São Gonçalo, no Rio de Janeiro. A atividade foi organizada por um núcleo de evangélicos do PT, que conta com a deputada-federal e ex-governadora Benedita da Silva (PT-RJ). Novas agendas do gênero estão previstas com o objetivo de reduzir a rejeição desse segmento do eleitorado à esquerda.

Uma fake news lançada recentemente pelas hordas bolsonaristas afirmavam que Lula, se eleito presidente, vai fechar templos. Embora o boato não tenha prosperado, foi o estopim para despertar as atenções da coordenação de campanha lulista para o tema.

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Antes do encontro, materiais específicos para eleitores religiosos foram produzidos, detalhando o legado do governo Lula e respondendo às mentiras. Uma das peças tem como mote “Não é pecado votar em Lula”. A campanha também lançou um jingle no estilo gospel, com o refrão “O crente deve sim em Lula votar / O crente deve sim / Não é pecado, não / O crente deve sim a vida festejar / E crer que dias melhores virão”. Além disso, houve distribuição de um panfleto com propostas da candidatura, associadas a versículos bíblicos.

No discurso em São Gonçalo, o ex-presidente reiterou sua crença em Deus e seu respeito à liberdade religiosa. “Nunca houve na história do Brasil um presidente que tratasse as religiões e as igrejas com a democracia que eu cuidei. Duvido que alguém tenha cuidado e garantido a liberdade de criar igreja, a liberdade de praticar a sua fé”, afirmou Lula. “Aprendi que o Estado não deve ter religião, não deve ter igreja. O Estado deve garantir o funcionamento e a liberdade de quantas igrejas as pessoas quiserem criar.”

No mesmo evento, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, candidato a vice na chapa presidencial, endossou o discurso do ex-presidente. Segundo Alckmin, Lula, quando presidente, “colocou em prática valores cristãos, como amor, trabalho, crescimento inclusivo, valorização do salário mínimo e moradia digna”.

O pastor Sérgio Dusilek, presidente da Convenção Batista Carioca, declarou apoio “pessoal” a Lula. “A Igreja Evangélica tem que pedir perdão ao senhor – tem que pedir perdão ao presidente Lula”, disse Dusilek. “O senhor não foi só alvo da injustiça do judiciário brasileiro. O senhor tem sido alvo da injustiça do clero brasileiro – e eu me envergonho por isso, presidente, porque o senhor não merece continuar passando por essa injustiça”.

Esse conjunto de ações, ainda em curso, começa a surtir efeito. Pesquisa Ipec divulgada na segunda-feira (11) mostra que as intenções de voto em Lula cresceram entre os evangélicos. Em uma semana, o apoio desse segmento ao ex-presidente subiu de 27% para 31% no primeiro turno – e de 33% para 38% no segundo turno. A vantagem de Bolsonaro entre esses religiosos – que era de 21 pontos percentuais em agosto – caiu, agora, para 15.

A exemplo do que ocorre no cenário nacional, o desempenho de Lula entre esses eleitores não é homogêneo. Ele chega a empatar tecnicamente com Bolsonaro entre evangélicos que ganham até dois salários mínimos. Nas outras faixas, porém, a dianteira de Bolsonaro chega a ser na proporção de três votos para um.

Mas a busca por apoios religiosos persiste. Nesta quarta-feira (14), Nilza Valéria Zacarias e Fernanda Fonseca, da coordenação nacional da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, entregaram uma carta de apoio à candidatura Lula à Presidência da República e de Fernando Haddad (PT) ao governo de São Paulo. O documento foi recebido por Lu Alckmin, Ana Estela Haddad e Lúcia França, esposas de candidatos da chapa.

A carta leva à campanha a mensagem das mulheres evangélicas – “que são as mais pobres, negras e periféricas”. Elas atuam de forma organizada na Frente, um movimento apartidário presente em 20 estados brasileiros.

“Não queremos que nós, mulheres evangélicas, sejamos tratadas de forma diferente de nenhuma outra mulher brasileira, de qualquer credo religioso”, aponta a carta. “O que toda mulher, de norte a sul do Brasil, precisa é de tranquilidade, de certeza que sairá para trabalhar e ao voltar encontrará seus filhos vivos. As mães querem ter a certeza que a violência e a barbárie não ceifarão a vida de suas crianças, nem o abuso, nem a exploração sexual roubarão suas infâncias.”

Para além de aspectos religiosos, a Frente de Evangélicos enfatiza questões econômicas, diante da crise agravada pela pandemia de Covid-19 e pelo governo de destruição de Bolsonaro. “Como mulheres trabalhadoras, queremos a paridade de nossos salários com os homens. Mais do que isso, queremos um salário que nos garanta poder de compra para alimentar nossas famílias”, afirma o texto.

Veja a íntegra da Carta:

VERMELHO