Avanço de 1,2% no segundo trimestre superou expectativas dos analistas e colocou a produção de riquezas do país acima do patamar do período imediatamente anterior à pandemia. Juros, porém, podem frear expansão

RH
Rosana Hessel

O Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre cresceu 1,2% na comparação com os três meses anteriores, na série com ajuste sazonal, totalizando R$ 2,4 trilhões. O resultado do indicador da formação de riqueza do país divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deixou a economia brasileira 3% acima do patamar dos últimos três meses de 2019, época de normalidade, antes da pandemia da covid-19.

A alta ficou acima da mediana das estimativas do mercado, de 0,9%, e desencadeou nova onda de revisões das projeções de crescimento do PIB deste ano. Antes, em torno de 2%, as previsões para 2023 estão subindo para algo entre 2,5% e 3%. Com o resultado divulgado ontem, a economia acumulou avanço de 2,5% no primeiro semestre.

Analistas reconhecem que o dado do IBGE foi positivo, impulsionado pelo bom desempenho da indústria e dos serviços, assim como do crescimento acima do esperado no consumo das famílias e nos investimentos. O consumo do governo e as exportações contribuíram negativamente para o PIB, refletindo a incapacidade do setor público para investir e o impacto da desaceleração global nos embarques de produtos nacionais.

De acordo com levantamento da Austin Rating, o Brasil ficou na 7ª colocação em um ranking de 29 países liderado pela Holanda, que cresceu 2,6%, e que traz a China entre os últimos colocados, devido ao tombo de 2,6% no PIB trimestral.

Especialistas ressaltam que as medidas de estímulo do governo contribuíram para turbinar a atividade econômica, como o adiantamento do 13º dos aposentados e o saque emergencial do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Outro fator que contribuiu para o resultado foi a inflação, que atingiu o pico de 12% entre abril e junho, elevando o faturamento das empresas e a arrecadação de impostos.

Contudo, analistas alertam que a tendência é de desaceleração nos próximos trimestres, mesmo com os novos estímulos fiscais do pacote de R$ 41,2 bilhões criado pela chamada PEC Kamikaze. Os efeitos da política de juros do Banco Central — que passou a ficar restritiva no fim de 2021 — começam a ter reflexo neste semestre, e devem se alastrar até 2023.

"O consumo das famílias e os estímulos do governo potencializaram o crescimento e ajudaram em uma recuperação mais forte do setor de serviços. No caso dos investimentos, o crescimento foi robusto, mas sobre uma base fraca", destacou a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria. Ela não descarta queda no PIB do último trimestre do ano, devido ao aperto monetário. Pelas projeções da Tendências, a taxa básica de juros (Selic) deverá ter mais uma alta neste mês, de 13,75% para 14% ao ano.

ECO-PIB evolução
ECO-PIB evolução(foto: Valdo Virgo)

Contração

A economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), reconheceu a surpresa positiva do PIB, mas ressaltou que é possível ver um cenário de contração nos indicadores acumulados em quatro trimestres em importantes motores da economia: investimentos, serviços e consumo das famílias.

No caso de investimentos, por exemplo, o crescimento desacelerou de 10,1% para 3,5% entre o primeiro e o segundo trimestre. A taxa do consumo das famílias, passou de 4,5% para 3,4%. Ela revisou a projeção do PIB deste ano de 1,7% para 2%. Já a previsão de queda do PIB de 2023 foi aprofundada de 0,3% para 0,4%.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, por sua vez, elevou a previsão deste ano de 1,6% para 2%, mas manteve em 0,5% a estimativa de queda do PIB no quarto trimestre. "Nota-se um início de esgotamento do crescimento de serviços, que chegou a expandir menos do que a indústria no segundo trimestre", disse. Para 2023, o cenário continua de crescimento fraco, segundo ele, que não descartou algum ajuste fiscal, pois prevê um rombo acima de R$ 100 bilhões nas contas públicas.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, por sua vez, descartou qualquer risco fiscal, comemorou os dados do IBGE e chegou a cogitar alta de até 3% no PIB deste ano e taxa nesse patamar em 2023. "O país está condenado a crescer", afirmou, em eventos com empresários, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Para ele, o país só não cresce entre 3,5% e 4%, porque está "com o freio de mão puxado", devido aos juros altos.

Segundo o IBGE, os destaques do segundo trimestre, no lado da oferta, foram as altas de 2,2% na indústria e de 1,3%, em serviços. Pela ótica da demanda, foram os avanços de 2,6% no consumo das famílias e de 4,8% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), termômetro dos investimentos. Na comparação com o mesmo intervalo de 2021, o PIB cresceu 3,2% e, no acumulado de quatro trimestres, o avanço foi de 2,6%.

CORREIO BRAZILIENSE

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