Às 21h do dia 14 de março de 2018, a vereadora Marielle Franco, do Psol, foi atingida por quatro disparos de arma de fogo enquanto transitava de carro pela zona central do Rio de Janeiro. Quatro anos depois, seu assassinato permanece sem respostas sobre quem foi seu mandante. A dúvida se tornou uma ferida constante na imagem do presidente Jair Bolsonaro, cujas investigações constantemente apontam para o seu nome e de membros de seu círculo de confiança.

A ferida deixada pela morte de Marielle se tornou também um fator determinante em algumas das principais crises políticas de seu mandato. Foi motivo de conflitos de Bolsonaro com a Polícia Federal (PF), foi a causa de sua ruptura com o (até então) ministro da justiça Sergio Moro e foi um dos elementos responsáveis por criar a rivalidade com o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel.

Relembre a seguir declarações de Bolsonaro durante investigações sobre o assassinato de Marielle Franco:

Ruptura com Witzel

Logo que assumiram seus mandatos, em 2019, o presidente Jair Bolsonaro e o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel começaram a se distanciar. Antes parceiro eleitoral da família Bolsonaro, o governador fluminense deixava de apoiar a ala bolsonarista na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, enfraquecendo aos poucos a aliança informal estabelecida no ano anterior.

Em outubro do mesmo ano, Witzel vazou inquéritos das investigações sobre o assassinato de Marielle Franco, rompendo de vez com a família Bolsonaro. Nos arquivos havia o depoimento do porteiro do condomínio onde Jair Bolsonaro morava, afirmando que “Seu Jair” teria autorizado a entrada de Élcio de Queiroz, um dos suspeitos do assassinato.

Não demorou para que a notícia se espalhasse, e, em resposta, Bolsonaro lançou um vídeo nas redes sociais atacando Wilson Witzel. Em seu pronunciamento, afirmou que o governador e seus aliados conspiravam  contra ele, e clamou por interferência externa nas investigações. “Por quê querem me destruir? (…) Pelo que tudo indica, esse processo ‘tá bichado’. (…) Tem que ter uma supervisão. Peço ao Conselho do Ministério Público que supervisione esse processo”, exclamou.

O caso até então era investigado pela justiça no Rio de Janeiro, e Bolsonaro defendeu que se mantivesse lá. “Não sei se seria o caso de federalizá-lo, (…) poderia ter o problema também: como pode federalizar, se a Polícia Federal tem dificuldade para desvendar quem tentou matar Jair Bolsonaro? Iam falar que eu estaria exercendo influência sobre a PF para me tirar do caso Marielle”, declarou.

Conflito com Moro

No ano seguinte, as investigações sobre a morte de Marielle levaram Bolsonaro a ter outro aliado transformado em rival. Desta vez a ruptura foi com seu até então ministro da justiça, Sergio Moro, que agora é um de seus concorrentes na campanha para as eleições presidenciais de 2022.

O processo desta vez já estava nas mãos da Polícia Federal, que deu andamento às investigações ao redor de Jair Bolsonaro e seus familiares. Em retaliação, o presidente exigiu que Moro trocasse o diretor da PF, confirmando suas intenções em uma reunião ministerial. O ministro não aceitou a interferência de Bolsonaro no processo, e pediu exoneração logo depois de expor o ocorrido em uma coletiva de imprensa.

Bolsonaro convocou uma coletiva de imprensa em resposta, na qual voltou a tentar traçar um paralelo entre o atentado sofrido em 2018 e o assassinato de Marielle. “Será que é interferir na PF quase que exigir, e implorar a Sergio Moro, que apure quem mandou matar Jair Bolsonaro? A PF de Sergio Moro mais se preocupou com Marielle do que com seu chefe supremo. Cobrei muito deles aí, não interferi. (…) Entre meu caso e o da Marielle, o meu está muito menos difícil de solucionar”, declarou.

Ataques à imprensa

Um alvo constante de Bolsonaro ao falar do assassinato de Marielle Franco são os veículos de comunicação que acompanham as investigações. No vazamento do depoimento do porteiro de seu condomínio, o presidente chegou a afirmar que a emissora Globo estaria construindo uma narrativa em que seu nome pudesse ser incluído entre os suspeitos de envolvimento no caso.

“Será que a Globo quer criar um fato, uma narrativa de que eu deveria me afastar, ou que o povo deveria ir às ruas para pedir meu afastamento, tendo em vista os indícios que acontecem sobre o caso Marielle? É o tempo todo isso.”, declarou, no mesmo vídeo em que atacou o ex-governador Wilson Witzel.

Nesse caso, Bolsonaro não se limitou a ataques verbais, como de costume ao tratar com jornalistas. Desta vez, ameaçou não renovar a concessão da emissora caso permanecessem associando seu nome ou de seus parentes ao de Marielle. “Não vou conversar com vocês da Rede Globo. Teremos uma conversa em 2022. Eu tenho que estar morto até lá, porque o processo de renovação de concessão (…) tem que estar enxuto, tem que estar legal. Não vai ter jeitinho para vocês”.

Dias depois, Bolsonaro tornou a atacar a emissora, desta vez em meio aos seus apoiadores na saída do Palácio da Alvorada. Em tom de deboche, olhou para as câmeras e perguntou: ““E a Globo, já acharam quem matou a Marielle? Foi eu mesmo ou não?”.