Com uma economia baseada no setor de serviços, capital paranaense ainda sobre os efeitos da crise econômica no mercado de trabalho.

Após meses seguidos de deterioração no mercado de trabalho brasileiro, algumas capitais já apresentam saldo positivo na geração de novos empregos com carteira assinada no acumulado de 2017. Curitiba, contudo, ainda faz parte do grupo de capitais que mais demitiu do que contratou neste ano, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego.  

Neste ano até agosto, São Paulo, Goiânia e Boa Vista lideram a criação de novas vagas formais entre as capitais. Entre demissões e contratações, o saldo da maior cidade do país é de 8.946 novos postos, bem diferente dos números negativos apresentados por outras 22 capitais brasileiras, entre elas Curitiba, que fechou 4.634 postos de trabalho no acumulado de 2017.

Com esse desempenho, Curitiba foi a 9.ª capital que mais demitiu no país. O Rio de Janeiro, mais uma vez, ficou com o pior desempenho (-46.497). A capital carioca é imediatamente seguida por Porto Alegre (-8.153), Recife (-8.068) e Fortaleza (-8.002).

Quando consideradas apenas as vagas de agosto (-1.948), a capital paranaense ainda fica no vermelho e amarga a posição de terceira cidade que mais demitiu em todo o Brasil, perdendo apenas para o Rio de Janeiro (-2.691) e Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul (-2.306).

                        

Setor de serviços em marcha lenta

Para o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Marcelo Curado, os resultados podem ser explicados pela dependência da economia local do setor de serviços.

“Curitiba tem uma estrutura econômica relativamente diversificada, mas a gente ainda passa por uma fase de transição e de reajuste”, aponta. “O Paraná tem uma base muito forte do agronegócio, que está reagindo relativamente bem. Porém, tem uma capacidade de emprego relativamente reduzida em relação a setores como o comércio”.

O setor terciário, que responde por mais de 60% da atividade econômica da capital, mas demorou mais a ser impactado pela crise, agora demora mais também para se recuperar no estado, que também sofreu menos do que o restante do país. Enquanto o Indicador Ipea de Comércio mostra um crescimento nacional de 2,6% nas vendas no varejo referentes a agosto, o Paraná registrou retração de 0,8% no setor, segundo informações do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social). Ou seja, enquanto outros setores já dão sinais de recuperação, comércio e serviços ainda amargam os efeitos da crise econômica.

“Grandes municípios, em um momento virtuoso da economia brasileira, tendem a apresentar resultados mais positivos. Com a recuperação da economia nacional, Curitiba vai voltar a apresentar resultados mais proeminentes”, afirma o diretor-presidente do Ipardes, Julio Takeshi Suzuki Junior.

No acumulado do ano, o setor que mais cortou postos de trabalho em Curitiba foi o varejo (-1.931), seguido da indústria de produtos alimentícios e bebidas (-1.486), instituições de crédito e seguradoras (-1.430), hotelaria (-670), transportes e comunicações (-641) e construção civil (-612).

O que caracteriza esses segmentos? Eles são vinculados quase exclusivamente ao consumo local, enquanto a agroindústria tem a opção da exportação. Como a capital apresenta esses segmentos muito presentes na sua economia, fica com esse prejuízo, afirma Suzuki Junior

                      

Sinal de recuperação?

Ainda que tenha sido a segunda capital que mais demitiu em agosto, a curva do desemprego em Curitiba já dá sinais de enfraquecimento. Depois de ter atingido seu nível mais alto no primeiro trimestre do ano, a taxa de desocupação na cidade teve um crescimento discreto entre abril e junho. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada em agosto pelo IBGE, houve um aumento de 0,6 pontos porcentuais: entre janeiro e março, o índice chegou a 11,2% e agora, no terceiro trimestre, voltou a 10,6%.

“A economia brasileira, de uma forma geral, parou a tendência de ampliação do desemprego, mas os setores que mais sofrem nessa crise são os de baixa qualificação de mão de obra”, diz Curado. “A recuperação vai exigir uma qualificação maior dos trabalhadores”, acrescenta.

                       

Fonte: Gazeta do Povo, 28 de setembro de 2017