O termo é usado para se referir a pessoas que estão se endividando ou “queimando” reservas para pagar contas do dia a dia, como de água e luz
Por Ana Conceição, Valor — São Paulo
Mais de um quarto dos consumidores de baixa renda estão sob estresse financeiro, ou seja, se endividando ou “queimando” reservas para pagar contas do dia a dia, como de água e luz, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV).
O Indicador de Estresse Financeiro, apurado durante as sondagens mensais do consumidor realizadas pela instituição, mostra que em julho deste ano 26% dos consumidores que ganham salários de até R$ 2.100 estão nessa condição.
Entre os que ganham acima de R$ 9.600, o percentual é menor, de 16,3%. Nas faixas intermediárias, o indicador variou entre 27% (até R$ 4.800) e 24% (até R$ 9.600).
Na média, 23% dos consumidores estavam se endividando ou reduzindo poupança para pagar despesas correntes em julho, contra uma média histórica de 19,6%. O indicador existe desde maio de 2009.
Embora os percentuais estejam um pouco abaixo dos registrados nas mesma época em 2018, o indicador está num nível considerado muito alto, segundo Viviane Seda Bittencourt, coordenadora da Sondagem do Consumidor da FGV.
“A queda em relação ao ano passado é pequena e é recente. O indicador atingiu seu ponto máximo no ano em maio”, afirma a economista. “A demora na reação do mercado de trabalho torna mais difícil colocar o orçamento doméstico em ordem.”
As famílias têm tentado fazer frente às despesas básicas, mas de acordo com pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) para a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), a inadimplência com contas de água e luz é a que mais tem crescido neste ano. Houve aumento de 17% em junho em relação ao ano passado.
Pesquisas dos birôs de crédito também apontam que dívidas caras e de curto prazo, como aquelas com os cartões de crédito e os carnês são citadas por consumidores como as mais recorrentes. As concessões no cartão de crédito parcelado cresceram 31% neste ano, de acordo com o Banco Central.
“Para o consumidor de baixa renda, a preocupação com o mercado de trabalho e com a situação financeira familiar são ainda os fatores de maior peso a determinar os movimentos da confiança neste ano”, afirma Viviane.
Valor Econômico