Relação com novo Congresso será teste para presidente começar a provar que tem capacidade política

A quatro dias de completar um mês no cargo de presidente, Jair Bolsonaro coleciona episódios que expuseram suas limitações e os pontos frágeis do governo.

Há duas opções diante deste cenário: 1. Corrigir eventuais falhas para que a gestão entre em um voo de cruzeiro o quanto antes. 2. Ignorar os sinais preocupantes emitidos na decolagem e tratar com normalidade o que deveria ser alvo de reflexão.

As impressões até agora passadas por Bolsonaro e aliados palacianos apontam que a segunda alternativa é a mais plausível, sinalizando alta probabilidade de turbulências.

Sem aviso prévio, por exemplo, o governo editou o decreto que fragiliza a Lei de Acesso à informação ao permitir que servidores comissionados —os de confiança e de livre nomeação— possam classificar documentos como ultrassecretos e secretos. Um golpe na transparência. 

E qual foi a reação governista à repercussão negativa? Defender a medida com argumentos vagos, como fez o vice-presidente, Hamilton Mourão, que assinou a mudança na condição de presidente interino. 

“A transparência está mantida e aqui no Brasil são raríssimas as coisas que são ultrassecretas”, disse. Ele tem razão em pontuar a raridade da classificação, mas se esqueceu de complementar que decorre justamente do fato de que até hoje apenas um grupo restrito de autoridades detinha aval para tanto. Agora, aumentando o leque de pessoas aptas, mais documentos deverão passar para o grau de sigilo máximo.

O comportamento de Bolsonaro em relação às suspeitas sobre seu filho e senador eleito, Flávio, é outro ponto sensível do primeiro mês de Planalto. O presidente parece não ter compreendido que a crise respinga no governo e exige resposta rápida e convincente, e não a declaração em que chamou de “garoto” o filho de 38 anos, prestes a virar senador.

O segundo mês de governo dará início à sua relação com o Congresso. Será o teste de fogo para Bolsonaro começar a provar que tem (ou não) capacidade política de dirigir o país.

Leandro Colon

Diretor da Sucursal de Brasília, foi correspondente em Londres. Vencedor de dois prêmios Esso.

Folha de S.Paulo