O Reino Unido entrou oficialmente em recessão. No ano em que o país trocou de primeiro-ministro duas vezes, as perspectivas econômicas são sombrias, com a inflação no nível mais alto dos últimos 41 anos e projeções de alta de desemprego. Mas o antídoto encontrado pelo governo para combater a crise é velho conhecido e dá calafrios à população: um novo plano de austeridade. O pacote anunciado pelo xerife das Finanças estima um aumento de tributos e cortes de despesas que somam 55 bilhões de libras, ou pouco mais de R$ 350 bilhões.

Isso significa que o país vai apertar o cinto no momento em que a economia começa a minguar, o que causa arrepio na população e no próprio partido conservador. Os cidadãos se vêem diante da dissipada do custo de vida, expectativa de redução de pelo menos 500 mil postos de trabalho, enquanto os juros da casa própria sobem e os salários encolhem. O país enfrenta a maior perda de qualidade de vida de que se tem notícia, desde que os dados começaram a ser contabilizados. Para o governo, a solução não é menos assustadora. No poder há 12 anos, os conservadores tentam se equilibrar como podem depois de perder dois premiês no mesmo ano, enquanto se preparam para enfrentar eleições gerais em 2024. Isso se conseguirem evitar que o pleito seja antecipado como querem oposição e alguns segmentos da sociedade.

O pacote anunciado pelo governo não é nada popular e pode se encarregar de acabar de vez com a paciência do eleitor com o partido da situação. Tudo isso pode ser a pá de cal para os conservadores na próxima eleição. Se o pleito fosse hoje, a oposição trabalhista seria eleita com grande vantagem. Os trabalhistas, por sinal, acusam os conservadores de estarem “batendo as carteiras” dos cidadãos.

Só de aumento de impostos são 25 bilhões de libra. É importante lembrar que esse pacote vai no sentido oposto do conjunto de medidas anunciado pela ex-primeira-ministra conservadora Liz Truss, substituta de Boris Johnson, que ficou no cargo por apenas 44 dias. Ela pregava o congelamento e o corte de tributos para estimular o crescimento econômico. Essa, aliás, foi a principal razão para que caísse. Seu pacote não tinha lastro na vida real. O governo do conservador Rishi Sunak revogou todas a partir do primeiro dia. E agora mostra que não vê solução para crise atual que não seja o arrocho.

O ministro britânico das Finanças, Jeremy Hunt, atribuiu as turbulências econômicas muito mais ao cenário internacional e à guerra da Rússia na Ucrânia. Ele não faz menção aos efeitos das medidas da ex-premiê, tampouco às consequências nefastas do Brexit, cada vez mais aparentes na economia britânica.

Apertando o cinto

Neste pacote, o governo mantém a ajuda às famílias para pagar as contas de energia. Mas será um auxílio menor do que o prometido inicialmente. O aumento do salário mínimo também foi garantido. Mas criou reações nas empresas de pequeno porte, que alegam que este será mais um custo que terão de enfrentar

Os conservadores apostam que as medidas anunciadas ao parlamento devem mostrar a luz no fim do túnel. Mas o fato é que o braço do governo responsável pelas projeções econômicas para montar o orçamento afirma que a economia do Reino Unido vai diminuir 1,4% no ano que vem. Isso só agrava a difícil situação das famílias que vêem seus salários encolherem e os preços nos supermercados dispararem.

Não por acaso seguem as greves de categorias diversas por todo o país. Enfermeiros devem ser os próximos. Nos últimos meses, as greves de trens e metrô têm causado prejuízos à economia e transtornos à vida do cidadão comum, que já paga uma das tarifas mais altas do mundo para utilizar o sistema de transportes.

No setor imobiliário, os sucessivos aumentos das taxas de juros anunciados pelo Banco da Inglaterra, o Banco Central inglês, devem complicar ainda mais o déficit habitacional do país. Especialistas dizem que pessoas com mais de 40 anos que já não tenham seu imóvel podem esquecer o sonho casa própria.

O que se vê agora é que os conservadores, sob o comando de Sunak, retomam a bandeira da austeridade fiscal dos últimos anos. O Sunak premiê é bem diferente daquele Sunak que foi ministro das Finanças durante a pandemia, que pregou a heterodoxia e a abertura dos cofres públicos para enfrentar as crises sanitária e econômica.

Fonte: RFI
Texto: Vivian Oswald
Data original da publicação: 18/11/2022

DMT: https://www.dmtemdebate.com.br/reino-unido-anuncia-novo-plano-de-austeridade-para-combater-recessao/