ELEIÇÕES 2022

A pesquisa Genial/Quaest do último dia 11 mostra que 45% dos brasileiros não concordam com o indulto de Jair Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira, contra 30% que concordam. Já a pesquisa Exame/Ideia do último dia 20 mostra que 49% dos brasileiros confiam nas urnas eletrônicas, enquanto 22% não confiam.

Além disso, ainda temos a baixa aprovação do presidente e a sua alta rejeição nas pesquisas. Também não faltam pesquisas apontando que entre as principais preocupações dos brasileiros orbitam a economia, o desemprego, a renda, a inflação, a fome e afins.

A última pesquisa XP/Ipespe revela que maioria dos brasileiros (60%) desaprova o governo, e que 62% acreditam que a economia está no caminho errado, além também de terem percebido aumento nos preços.

A última pesquisa CNN/Real Big Time data mostrou que 27% dos eleitores rejeitam Jair Bolsonaro pela sua grosseria, ou seja, por ele ser quem ele é.

Pesquisas qualitativas internas feitas tanto pelo PT quando pelo PL mostram que boa parte do eleitorado feminino também não gosta dessa postura beligerante e buliçosa do atual presidente.

Há duas semanas eu comentei como os militares recuaram na escaramuça antidemocrática ao ver que estavam passando vergonha sozinhos ao lado do presidente.

O que isso significa? Que as estultices ditas pelo presidente não empolgam. A população no geral, está cansada de políticos espalhafatosos que gritam, ameaçam, promovem bagunças e que não trazem soluções práticas para os problemas dos brasileiros.

Jair Bolsonaro sabe que não tem o que oferecer aos brasileiros, os preços seguem subindo, seu governo é o primeiro em que o salário mínimo perde valor e o desemprego segue endêmico no país. É um presidente que não trabalha, um mandrião. Logo, essa truculência é associada pelos eleitores como um traço da sua incompetência.

As campanhas de Lula e de Simone Tebet perceberam isso. Basta ver o tom da campanha do ex-presidente que trouxe o ex-governador Geraldo Alckmin e faz um discurso muito sereno sem bolas divididas ou caindo em provocações de seus adversários.

Diferente de outros “cavalos-de-pau” a que já assistimos na política, Alckmin se une ao Lula não como um novo político à esquerda ou um novo nome do progressismo brasileiro. Alckmin foi chamado justamente para ser… o Alckmin!

Além disso, a maioria das falas do ex-presidente é sobre os problemas dos brasileiros, sobre o preço das coisas, inflação, saúde e educação.

A mesma coisa com a pré-candidata Simone Tebet, que, embora ainda escorregue ao colocar Lula e Jair no mesmo patamar, em sua última coletiva de imprensa na quarta-feira (25) falou muito sobre emprego, renda, comida na mesa, repudiou a chacina do Complexo da Penha no Rio de Janeiro e buscou ser o mais propositiva possível.

Embora seja o principal nome na terceira via (depois de um longo resta um), Tebet tentou ficar o mais longe possível do discurso nem-nem, além disso, repudiou a loucura de “Estado mínimo”, se colocou contra a privatização da Petrobras e disse que a política não é feita com violência e grosserias.

Ela enterrou a sandice da “nova política” que ainda orbitava a terceira via e que valorizava essas estultices, e, ao mesmo tempo acenou claramente para os eleitores do Ciro Gomes e outros mais à esquerda.

O que resta para Jair Bolsonaro? Tentar requentar o discurso anticorrupção enquanto comanda um governo recheado de escândalos em diversas pastas. Corrupção que não é a preocupação de nem 10% do eleitorado.

É aí que entra o desespero do presidente, as ameaças de golpe e tantas outras estultices. Uma gritaria característica dos incompetentes, já que ele não pode oferecer nada ao país e aos brasileiros.

Isso talvez explique o desempenho de Ciro Gomes, cristalizado há meses entre 5% e 9% (a depender da pesquisa) nas pesquisas eleitorais. Ciro é conhecido por sua postura buliçosa, afeito aos palavrões e falas fortes, o candidato tenta se colocar como uma opção à esquerda contra Lula e Jair Bolsonaro e embora tenha virado figurinha carimbada em publicações e grupos de Telegram dos bolsonaristas, suas “furadas de bolha” não se convertem em intenção de votos.

Ciro hoje flerta com o posto de candidato de auditório das eleições deste ano, posto que já foi ocupado por Daciolo, Enéas, Plínio. Isso nas eleições presidenciais. Nas disputas pelos executivos estaduais, nomes não faltam! Vamos de Márcia Tiburi até Joice Hasselmann.

Essa posição é ocupada por candidatos que sabem que vão perder e marcam presença na campanha e nos debates pela capacidade de arrancarem risos do eleitorado ou fazerem “lacradas”. Vide coisas infantilóides como “ciranha”. Depois de tudo isso, ele apenas oscilou na margem de erro da última pesquisa Datafolha e caiu 1%.

E na maioria dos casos acreditam que a má performance eleitoral é sempre culpa dos outros, do brasileiro e do mundo, menos deles e suas péssimas escolhas.

É quase uma Esquerda Íbis: fala o que quer pois sabe que vai perder, odeia ganhar e odeia quem ganha.

A última escaramuça do Ciro foi um “debate” com o humorista Gregório Duvivier, que apenas reforçou em Ciro a mesma característica belicosa que é rejeitada em Bolsonaro. Em um evento que beira o lamentável, o presidenciável interrompeu o humorista seguidas vezes e tentou “lacrar” de forma vergonhosa, como quando acusou Gregório de estar cercado de “colas” e assistentes durante o debate, algo que foi provado ser mentira ao vivo.

Gregório não tinha nada a perder com o debate, afinal de contas, não é candidato a nada. E Ciro, que havia promovido o debate, é um presidenciável que se rebaixou para ser o showman de um espetáculo lamentável.

As pesquisas publicadas nos dias posteriores ao evento confirmaram algo que eu apontei nas redes no mesmo dia: Ciro não ganharia e tampouco perderia alguma coisa com esse evento, embora seus seguidores tenham crescido nas redes sociais, isso não se converteria em intenção de votos, foi o que aconteceu.

A última pesquisa da Genial/Quaest ainda mostrou que a maioria dos brasileiros (43%) se informa sobre política através da TV, contra 23% que se informam pelas redes sociais e outros 12% que se informam via sites e blogs.

Um esforço muito grande para queimar o próprio filme e ter pouco retorno.

A mesma pesquisa mostra como a avaliação positiva do desastroso governo Bolsonaro é maior entre aqueles que se informam pelas redes sociais. Ou seja, numa eleição em que cada voto importa, embora as redes não sejam determinantes, possuem o seu peso na hora de ampliar o seu eleitorado, mas não são determinantes a ponto de justificarem um verdadeiro vale tudo.

Isso também explica em partes a liderança de Lula e Bolsonaro nas pesquisas.

Ex-presidente e atual presidente estão constantemente nos noticiários, cada declaração do Lula rende pelo menos dois minutos em algum jornal do país. A mesma coisa para Bolsonaro.

Ambos recebem muito mais mídia do que seus adversários, até pela relevância que trazem ao cenário eleitoral.

Vários analistas já apontam essa eleição como um pleito plebiscitário, ou seja, uma discussão onde o povo irá avaliar se a violência política e o autoritarismo são a melhor maneira de governar o Brasil.

Outubro será o momento em que o brasileiro terá de dizer se realmente concorda com a incompetência bolsonarista ou não.

E é nesse contexto que Lula lidera as pesquisas, pois, para parte do eleitorado, o ex-presidente é o extremo oposto de tudo que Jair Bolsonaro representa e que boa parte dos brasileiros está cansado de ver: a incompetência, a desfaçatez com a vida e dignidade humana, o comportamento mandrião.

E até o momento os eleitores ainda não conseguiram enxergar em outro candidato esse oposto à incompetência. Isso não significa que os demais candidatos sejam como Jair Bolsonaro, mas sim que os eleitores buscam uma escolha mais segura para romper esse ciclo. Principalmente por conta de boa parte dos demais candidatos que em algum momento apoiaram o atual presidente ou então se omitiram de algum posicionamento no segundo turno.

Outro fator relevante foi a pandemia. Ela mostrou para a sociedade a importância de um Estado atuante, formulador de políticas públicas e gestores experientes. As eleições regionais de 2020 já apontavam para esse sentido. Repito: é uma questão de escolha segura.

Mesmo com todas as críticas e problemas que os governos petistas podem ter, os eleitores recordam com muita nostalgia os governos Lula, um momento de extraordinário crescimento econômico e poder de compra dos brasileiros que contrasta e muito com o governo atual.

Ainda assim, existe uma massa gigantesca de eleitores que só define a sua escolha mais próximo das eleições, que são justamente esses eleitores que não acompanham a política de forma tão assídua, mas que estão cansados de tanta “agitação”.

Quem quiser disputar esses eleitores precisará saber conversar, propor e falar menos dos seus oponentes e mais das suas propostas.

Uma pesquisa interna dos partidos da terceira via já havia sinalizado isso. E explica em partes o fracasso do grupo, que até então se preocupou mais em reclamar dos demais candidatos do que se apresentar de fato.

Além disso, a última pesquisa Datafolha reforça um movimento que eu ando apontando nas últimas semanas: a antecipação do segundo turno.

As pesquisas Ipespe e Datafolha mostram que quase 70% dos eleitores já decidiram seu voto, porém, mais de 30% ainda não fizeram a sua escolha. É muito voto e dá para mudar e muito o cenário eleitoral com isso!

A queda da 3ª via e as ameaças do Jair com os militares aceleraram isso. Vejam os movimentos dos últimos dias como os tucanos históricos e Lula e os lavajatistas com Jair.

Basta ver que, segundo o Datafolha, Lula está com 48% contra 27% do atual presidente, fazendo com que Lula possa ganhar no primeiro turno.

Repito aqui as palavras do jornalista Thomas Traumann:

“Em uma eleição que promete ser tão acirrada quando a de outubro, a diferença entre vitória e derrota pode estar em convencer quem não foi convencido em 2018”.

O eleitor está exausto, o nosso cenário eleitoral é melancólico e cheio de altos e baixos: ameaças de um golpe que nunca virá, uma eleição distante, um presidente que não trabalha e candidatos que insistem em trocar socos com pesquisas eleitorais só porque estão perdendo e que não mudam há meses.

Para finalizar, dica para vocês, queridos leitores e leitoras: a última pesquisa Datafolha coloca a campanha de Jair Bolsonaro em crise, inclusive na questão da formação de palanques. Além de colocar Lula com a possibilidade de vencer em primeiro turno, ainda mostra que o novo Auxílio Brasil não foi capaz de melhorar a situação do presidente.

Fiquem atentos em junho! É a data final para a liberação de emendas do Orçamento. Se até lá tivermos outro Datafolha, a coisa vai ficar feia para o Jair. Ainda mais porque estaremos na época das convenções partidárias.

Recado importante! Tem muita gente questionando a diferença dos resultados entre Ipespe e Datafolha.

Vale ressaltar que as pesquisas usam metodologias diferentes e que uma é presencial e outra por telefone. Além disso, a Ipespe colocou Doria nos seus cenários.

Mesmo assim, vendo pela margem de erro, Datafolha e Ipespe estão bem parecidos. O primeiro dá 46% para Lula e 29% para Bolsonaro, enquanto o segundo aponta o petista com 46% e o atual presidente com 31%. Ciro segue na casa dos 8%. Ou seja, não há nenhuma discrepância.

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