Deputados e senadores criticam discurso do presidente brasileiro na abertura da 75ª Assembleia-Geral das Nações Unidas

(Foto: Reprodução/Presidência)

Quem apostou num discurso repleto de mentiras não se decepcionou. Na abertura da 75ª edição da Assembleia-Geral das Nações Unidas, realizada nesta terça-feira (22), de forma virtual, Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil é “vítima de uma campanha brutal de desinformação” sobre a Amazônia e o Pantanal e chegou a culpar indígenas e caboclos pelas queimadas que devastam os biomas.

“Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da Floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”, disse Bolsonaro, ignorando o aumento de pelo menos 30% das queimadas na Amazônia em relação a 2019, e a maior devastação do Pantanal, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Apesar da inércia de seu governo em combater os incêndios e da redução de 58% dos recursos para este fim em sua gestão, Bolsonaro afirmou que o Brasil segue líder na preservação ambiental e que “focos criminosos são combatidos com rigor e determinação”. “Mantenho minha política de tolerância zero com o crime ambiental”, disse o presidente.

Para deputadas do PCdoB, Bolsonaro mente descaradamente na ONU e envergonha o país. “Bolsonaro discursa na ONU e responsabiliza a “campanha de desinformação” pelo fumacê das queimadas na Amazônia e Pantanal que avança sobre os demais estados do Brasil e América do Sul. Bolsonaro vai ganhar o troféu #MentirosoGeralDaONU”, tuitou a líder da legenda, deputada Perpétua Almeida (AC).

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) também apontou que o discurso do presidente foi “mentira atrás de mentira”. “Jogando a culpa de queimadas no Pantanal e Amazônia em “organizações”, sem provas. Me poupe! E ainda defendeu as práticas do agronegócio. Mentira atrás de mentira”, disse.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) destacou a hipocrisia de Bolsonaro em seu discurso. “O Brasil ardendo em chamas e Bolsonaro segue negando sua irresponsabilidade. Esse presidente é um mentiroso! Afirma que a imprensa brasileira politizou o coronavírus, colocou a culpa das queimadas nos índios e ainda garantiu tolerância zero nos crimes ambientais. Quantas mentiras! Bolsonaro envergonha o nosso país!”, apontou.

O líder do PSB, deputado Alessandro Molon (RJ), afirmou que o discurso de Bolsonaro envergonhou o país. “BOLSONARO NA ONU: disse que o governo assistiu mais de 200 mil famílias indígenas, quando na verdade vetou água potável para povos indígenas em meio à pandemia. O presidente envergonha o Brasil diante do mundo. #BolsonaroNaONU”, publicou no Twitter.

Para ele, o fracasso no enfrentamento à pandemia e às queimadas no Pantanal e na Amazônia é o resultado da sua péssima condução do país. “Intencionalmente descolado da realidade, Bolsonaro não assume sua responsabilidade”, disse Molon.

“Assembleia Geral da ONU: Bolsonaro foi eleito com mentiras. Sua reação na pior crise sanitária e econômica dos últimos anos é mentir. Não nos surpreende, portanto, que ele tente cobrir seus crimes contra o país e contra a humanidade com mais… mentiras!”, disse o líder da oposição na Câmara, deputado André Figueiredo (PDT-CE).

Para o líder da minoria, José Guimarães (PT-CE), o discurso de Bolsonaro foi um show de fake news. “Banalizou as queimadas que acontecem no país, bajulou o Trump, atacou os indígenas, jogou suas responsabilidades como presidente para terceiros. Em outras palavras, Bolsonaro mais uma vez humilha o Brasil diante do mundo!”, protestou.

Senado

“Bolsonaro mente descaradamente na ONU! Para ele, o Brasil é exemplo de combate a pandemia. A Amazônia não tem incêndios. O Pantanal só queima por causa das altas temperaturas e existe um complô internacional contra ele. Vive em um mundo paralelo!”, reagiu o líder da oposição no Senado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

O líder do PT na Casa, senador Rogério Carvalho (SE), diz que mais uma vez Bolsonaro coloca o Bandeira do Brasil em um grande vexame internacional em seu discurso mentiroso na Assembleia Geral da ONU. “Com pantanal em CHAMAS, país de volta ao mapa da fome e recorde de mortes pela COVID-19, Bolsonaro tenta esconder o desastre de seu Governo! #ForaBolsonaro”, escreveu na rede social.

O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que só faltou Bolsonaro falar na ONU que os satélites da Nasa, que constatam o recorde de queimadas no Brasil sob Bolsonaro, são comunistas. “Porque ele voltou a mentir dizendo que a Amazônia não queima porque é úmida. Passou vergonha!”, ironizou.

Pandemia

Em sua fala, Bolsonaro apresentou ainda um governo ativo no combate ao novo coronavírus. Falou que sempre alertou que o país precisaria enfrentar o vírus e o desemprego com a “mesma responsabilidade”. Esqueceu-se de dizer, no entanto, que sua gestão não foi eficaz em nenhum dos pontos, uma vez que o Brasil tem quase 140 mil mortos pela Covid-19 e 14 milhões de desempregados.

Mas afirmou que “nosso governo, de forma arrojada, implementou várias medidas econômicas que evitaram o mal maior”, ao acusar a imprensa de politizar o vírus, “disseminando o pânico entre a população”.

“O presidente minimizou os impactos da pandemia, disse que o coronavírus era uma “gripezinha”, ignorou todas as recomendações da OMS, e agora tem a coragem de lamentar as mortes pelo vírus no Brasil. Bolsonaro é um hipócrita!”, disse Alice Portugal.

Alice criticou ainda o trecho em que Bolsonaro fala que a produção rural do país não parou, abastecendo o mundo com alimentos. “Esqueceu de dizer que ele vetou auxílio emergencial a esses importantes trabalhadores”, rebateu a parlamentar.

Distante do tema deste ano da Assembleia, que é a promoção do multilateralismo, Bolsonaro lançou ainda um “apelo à comunidade internacional pela liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia”, e encerrou sua participação afirmando que “o Brasil é um país conservador e cristão.”

Liderança do PCdoB na Câmara dos Deputados