Um dos efeitos possíveis é o aumento do valor de produtos importados da China, caso a epidemia seja duradoura – e caso as medidas de contenção não se mostrem eficientes

O avanço do coronavírus já afeta o mercado financeiro internacional e acende uma luz amarela para o consumidor brasileiro. Um dos efeitos possíveis é o aumento do valor de produtos importados da China, país que ocupa o posto não só de maior importador, mas também maior vendedor de itens para o Brasil, como aparelhos eletrônicos, máquinas e roupas.

Segundo especialistas, esse cenário por ora apenas especulativo é uma possibilidade caso a epidemia seja duradoura – e caso as medidas de contenção não se mostrem eficientes. Os impactos no curto prazo já começaram. Como reação ao avanço do coronavírus, a China decidiu prolongar em três dias o feriado do Ano Novo Lunar, que acabaria nesta quinta-feira (30). Além disso, a metrópole industrial de Wuhan, epicentro da doença, foi confinada.

Para o economista Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, apesar da redução da atividade econômica na China, não é possível esperar no momento um impacto nas exportações brasileiras. Já as importações poderão sofrer impacto, porque a liberação de produtos em portos e aeroportos poderá ficar mais cara. “Todos os critérios de vigilância vão ser cobrados. Isso pode encarecer as transações ou preço final”, diz.

No cenário de curto prazo, o que está acontecendo é apenas uma fuga de investidores do cenário de incerteza. “Eles optam por comprar moedas fortes e vender ações especialmente de empresas com mais transações com a China”, explica.

O paralelo com a epidemia de Sars (síndrome respiratória aguda grave), de 2003, é inevitável. A doença – que também teve origem na Ásia e deixou cerca de 800 mortos – derrubou a economia mundial em 0,5%, segundo o especialista.

Parceria importante

O crescimento da relação comercial com a China nas últimas décadas levou o país asiático à liderança na compra e venda de produtos com o Brasil, à frente dos Estados Unidos. Em 2019, a China foi responsável por 28% das exportações brasileiras – US$ 57,6 bilhões até novembro, enquanto os produtos chineses responderam por 19,8% das importações – US$ 32,6 bilhões até novembro, segundo o Ministério da Economia.

Essa forte relação aumenta os efeitos no Brasil de problemas na economia chinesa. Para Ernani Reis, analista da Capital Research, na confirmação de um cenário pessimista, a queda da produção da indústria chinesa pode reduzir a oferta de eletrônicos e outros itens de consumo. “Isso pode pressionar a alta do preço pela escassez dos produtos.”

O impacto recairia, sobretudo, em produtos de empresas chinesas ou mesmo de outros países que têm etapas de fabricação sediadas no país asiático. É o caso da Apple. Diversas empresas brasileiras também dependem desse comércio e colocam suas marcas nos produtos “made in China” antes de revendê-los no Brasil.

No momento, o ponto de atenção sobre o impacto mundial da crise é o preço do petróleo, avalia Reis. O valor do barril caiu nas últimas semanas e a expectativa é que governo americano anuncie nesta quarta-feira (29) um aumento do estoque. O petróleo desvalorizado pode impactar nos resultados da Petrobras.

Ernani Reis entende que a crise do coronavírus pode, sim, impactar a exportação de commodities brasileiras para a China, como carne e soja, além de minérios. “O Brasil ainda tenta mensurar os reflexos do acordo comercial entre EUA e China e agora já tem um novo desafio”, conclui.

Com informações do R7