Os presidentes da Câmara e do Supremo Tribunal Federal e dois ex-presidentes da República repudiaram a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre uma eventual defesa do Ato Institucional 5 (AI-5) em caso de radicalização de protestos no Brasil. Rodrigo Maia, Dias Toffoli, Fernando Henrique Cardoso e Lula criticaram a declaração do ministro, em uma coletiva nos Estados Unidos, e defenderam a democracia.Já o presidente Jair Bolsonaro se esquivou de comentar o assunto.

Guedes também foi defendido.

A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), responsável por apresentá-lo ao presidente Jair Bolsonaro, e a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) apoiaram o ministro, mas em tons diferentes. “Como não amar esse ministro!?”, reagiu Bia. Janaína disse que o ministro foi mal interpretado.

Veja as reações às declarações de Paulo Guedes:

"Eu falo de AI-38. Quer falar de AI-38? Eu falo agora contigo. Quer o AI-38? Eu falo agora. Esse é meu número. Outra pergunta aí."
Jair Bolsonaro, presidente da República

“O AI-5 é incompatível com a democracia. Não se constrói o futuro com experiências fracassadas do passado”
Dias Toffoli, presidente do STF

"Tem que tomar cuidado, porque se está usando um argumento que não faz sentido do ponto de vista do discurso, e como não faz sentido, acaba gerando insegurança em todos nós sobre qual é o intuito por trás da utilização de forma recorrente dessa palavra."
Rodrigo Maia, presidente da Câmara

"Acho lamentável que as pessoas falem sobre o AI-5 como se fosse uma coisa banal. Não foi, foi grave, fez mal à democracia. Conseguimos repor a democracia no Brasil e temos que lutar para preservá-la"
Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente em entrevista à BBC Brasil

“Vamos deixar uma coisa clara: se existe um partido identificado com a democracia no Brasil é o Partido dos Trabalhadores. O PT nasceu lutando pela liberdade e governou democraticamente. Não fomos nós que elegemos um candidato que tem ojeriza à democracia.”
Lula, ex-presidente da República

“Estão distorcendo o que o Ministro Paulo Guedes falou. Ele não fez nenhum tipo de defesa de ditaduras, ou de medidas como o AI5. Ele alertou para a irresponsabilidade daqueles que estimulam conflitos (abertamente, aliás) e do impacto que esses estímulos podem ter nas pessoas.”
Janaína Paschoal (PSL-SP), deputada estadual mais da história do país

“Guedes critica discurso de Lula e diz: “ Levando o povo pra rua pra quebrar tudo...’Não se assustem se alguém pedir o AI-5'. Como não amar esse ministro!?”
Bia Kicis (PSL-DF), deputada federal

“Um governo de covardes, sob todos os aspectos. 'Não se assustem se alguém pedir o AI-5', diz Guedes”
Fernando Haddad (PT), ex-prefeito de São Paulo e candidato derrotado por Bolsonaro em 2018

"Paulo Guedes disse para não se assustar se pedirem o AI-5. Quem trabalhou para Pinochet e virou homem de confiança da família Bolsonaro com certeza não se assusta com ditadura. Liberalismo com tortura nos outros é refresco!"
Guilherme Boulos (Psol), líder do MTST e ex-candidato a presidente

A declaração foi dada quando Guedes comentava a convulsão social e institucional em países da América Latina, mostra a Folha de S.Paulo. Segundo ele, é preciso prestar atenção na sequência de acontecimentos nas nações vizinhas para ver se o Brasil não tem nenhum pretexto que estimule manifestações do mesmo tipo.

"Sejam responsáveis, pratiquem a democracia. Ou democracia é só quando o seu lado ganha? Quando o outro lado ganha, com dez meses você já chama todo mundo para quebrar a rua? Que responsabilidade é essa? Não se assustem então se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez? Ou foi diferente? Levando o povo para a rua para quebrar tudo. Isso é estúpido, é burro, não está à altura da nossa tradição democrática."

Guedes defendeu o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, que sugeriu o AI-5 caso “a esquerda radicalizasse”. De acordo com o ministro da Economia, o líder do PSL reagiu ao que chamou de convocações feitas pela esquerda, endossadas pelo ex-presidente Lula.

Somente dias após a declaração de Eduardo, após ser solto, Lula sugeriu que os jovens brasileiros fizessem protestos como os do Chile da Bolívia.

Segundo a repórter Marina Dias, após quase duas horas de entrevista coletiva, o ministro disse que estava dando as declarações em off, termo usado no jornalismo que significa que as informações não devem ser atribuídas à fonte. Guedes autorizou a publicação ao ser informado que a entrevista havia sido transmitida por agências de notícia e emissoras de TV em tempo real.

Depois desse acerto, o ministro da Economia disse considerar inconcebível a edição de um AI-5, mecanismo que institucionalizou a censura, a perseguição e a tortura de quem se opunha à ditadura. "É inconcebível, a democracia brasileira jamais admitiria, mesmo que a esquerda pegue as armas, invada tudo, quebre e derrube à força o Palácio do Planalto, jamais apoiaria o AI-5, isso é inconcebível. Não aceitaria jamais isso. Está satisfeita?", afirmou, dirigindo-se à repórter. "Isso é uma ironia, ministro, o senhor está nos ironizando?", disse a jornalista. "De forma alguma", retrucou Guedes.

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